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24 dezembro 2021

LEILÃO? Não, obrigado.

Participei raríssimas vezes de leilões, por uma razão simples: Eu não sou afobado pra comprar peças pra minha coleção. Ao ver uma peça de interesse, vejo o preço, olho nos principais catálogos a cotação e a tiragem, dou uma boa pesquisada na internet pra saber se posso conseguir a mesma peça por um preço melhor... E tenho uma regra básica: Depois de tudo isso, EU AGUARDO 48 HORAS. DOIS DIAS. Passados os dois dias, se o interesse na peça permanecer e o preço estiver bom, faço a compra.

É dessa forma que tenho montado o meu acervo, há mais de 25 anos. Quase tudo comprado por preço fixo, à vista, venda direta e sem afobação. Não tenho pressa, a vida é longa…

Quanto aos leilões:

Não compactuo com tal prática de leilão, que somente serve para inflar no mercado os preços de peças comuns. Além disso, LEILÕES são fortes incentivadores da LUDOMANIA, grave doença patológica classificada pela OMS – Organização Mundial de Saúde - caracterizada pelo VÍCIO EM JOGOS, (CID 10 F63. 0 Jogo Patológico) onde o licitante arremata peças comuns por valores estratosféricos, às vezes nem importando muito com qual seja a peça, apenas pelo prazer e excitação de arrematar e “vencer” os licitantes concorrentes.

Alguns anos atrás, os leilões filatélicos eram por via impressa. Recebia-se pelos correios um catálogo de um leiloeiro, (o qual muitas vezes ficávamos com sérias preocupações sobre onde raios o sujeito conseguiu o nosso endereço). Mas ao menos costumava ser de leiloeiros sérios, gente que era igualmente filatelista ou comerciante estabelecido e conhecido.

Participei raríssimas vezes de leilões nessa modalidade, pois tinha que enviar uma carta com o lance, e torcer pra semanas depois vencer o lote desejado. Nunca coloquei mais que o mínimo possível, e claro, perdi muitas vezes. Ver uma peça que interessa, dar lance e saber que outros deram lances maiores, é muito frustrante pra mim. E quando vencia? Tinha que pagar o valor da peça + comissão do leiloeiro (geralmente 15-20% do arremate), + porte dos correios + 1% do valor do arremate pro seguro. No final das contas, ao fazer as contas na ponta do lápis, não raro a peça saía pelo preço de mercado de venda direta. E quando a peça aqui chegava, sempre tinha um “porém”, na maioria das vezes, selos com ferrugem.

Recentemente, vieram as redes sociais Facebook e Whatsapp. No Facebook ainda dá pra participar, pois a peça fica ali fotografada, (mesmo as comuns e baratas) e você vê quem é o leiloeiro, quem está licitando, e o leilão fica aberto por alguns dias, o que dá pra pesquisar, analisar e pensar se arrematamos ou não.

O problema ocorre quando um licitante filho da puta bloqueia o seu perfil pra que você não veja o lance dele e não possa cobrir. Tive um problema assim no leilão de numismática do Bruno Pelizari, um dos diretores da S.N.B.. O licitante concorrente me bloqueou, e deu um lance 1 real maior faltando 1 ou 2 minutos pro fim do leilão. Quando percebeu que me venceu, me desbloqueou. E eu aqui jurando que havia vencido a licitação. Quando vi a palhaçada e fui reclamar com o leiloeiro, a resposta foi a de que o fulano de tal era JUIZ de Direito, e que por isso jamais faria uma coisa dessas... (ou seja, ele é um juiz e eu sou um nada, e provavelmente estou mentindo, portanto ele ganhou e fica quieto aí…). Ok, não vou brigar. Mas também nunca mais participei do leilão dele e inclusive desfiz a amizade na rede social.

Já no Whatsapp... Tudo MUITO suspeito. As peças são licitadas uma a uma, e cada lote é apresentado meio que de surpresa (não dá pra ver as peças em licitação antes do leilão começar) e os licitantes (sem rostos, sem nomes, apenas números de telefone) dão seus lances e o lote é encerrado. Tudo isso em 1 minuto ou no mais tardar, 2 minutos. É olhar a foto, dar o lance e tentar cobrir rapidamente, em segundos, os lances dos demais. Não dá tempo nem pra pensar ou conferir na coleção se já temos aquela determinada peça.

Vi leiloeiros com perfis falsos (outro telefone com outra conta de whatsapp) dentro do grupo de leilão, fingindo ser cliente e dando lances nas peças, aumentando assim o valor final do arremate. Isso é fácil de provar, pois muitas vezes o arrematante fake do próprio vendedor, com o mesmo código DDD do vendedor, “ganha” a licitação, e algumas semanas depois, lá está a mesmíssima peça novamente em leilão. E claro, a peça retorna agora “valorizada”, com o preço inicial sendo o preço final do leilão anterior. E se questionarmos o fato, o vendedor irá dizer que o arrematante anterior havia “desistido” da peça ou que “por sorte apareceu outra”.

Além do mais, devido a rapidez com que cada lote é apresentado e arrematado, muitas peças já começam o leilão com lances iniciais já no valor de mercado de venda ao consumidor final. Como tudo é rápido, não dá tempo do licitante fazer a menor pesquisa de preços.

E agora, recentemente, veio o portal de “Leilões BR”, que virou uma verdadeira praga e tornou tudo uma desgraça. Na imensa maioria dos casos, o leiloeiro NÃO É filatelista e NÃO É comerciante filatélico, ou seja, não entende nem mesmo o básico de filatelia. O sujeito comprou uma coleção qualquer, ou não raro, pegou consignado de algum comerciante com grande estoque, e está leiloando em retalhos.

Como o leiloeiro não conhece o que vende, isso poderia ser bom, se víssemos Olho de Boi sendo vendido a preço de selo comum, mas o que ocorre é justamente o contrário: Selos comuns sendo vendidos a preços de Olhos de Boi.

Selos que não dizem se são novos com goma, novos sem goma, novos com charneira, apenas apresentam como “novos”. E a ferrugem é chamada pelo eufemismo de “marquinhas do tempo”. Aí fica difícil licitar...

Ainda assim, arrisquei. Dei umas licitadas, venci dois lotes. O primeiro saiu a preço de mercado. O último tive que devolver: selo anunciado como “novo”, e fotografado somente pela frente, chegou aqui e tinha uma baita charneira e aminci.  Arrematado por R$ 470, cotando € 600 novo com goma e apenas € 15 sem goma ou com charneira, não me restou outra escolha. E por fim, o vendedor não gostou disso, e reclamou com a plataforma “Leilões BR”, que me bloqueou. Após uma troca de e-mails com muitas palavras ásperas, me desbloquearam, exceto pro site daquele vendedor específico (um tal Miguel Salles).

Muitos comerciantes filatélicos conhecidos estão aderindo a essa plataforma. Conheço lojas filatélicas que deixaram de ter vendas a preço fixo, e passaram a trabalhar somente com leilão por essa plataforma. São lojas que inclusive vão deixar de ver a cor do meu dinheiro.

Enfim, é leilão? Não, obrigado. Prefiro o bom e velho preço fixo, e somente compras em lojas e estabelecimentos conhecidos. Assim dificilmente passo raiva ou tenho frustrações com lotes perdidos ou vencidos que chegam aqui com defeitos não descritos.