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01 outubro 2020

Glassine

Na filatelia, vamos encontrar o glassine principalmente em:

1) Envelopes confeccionados especialmente desse material;

2) em páginas intercaladoras nos classificadores;

3) nas tiras de certas marcas de classificadores;

4) Charneiras. (para os Fila-Jumentos que ainda usam isso...).

Antes de mais nada, vamos dizer o que NÃO É glassine e quais as diferenças:

Glassine NÃO É papel manteiga, e NÃO É papel vegetal!

Embora seja (de longe) visualmente parecido, e inclusive nos primeiros estágios de fabricação sejam idênticos, o papel manteiga vem em rolos, é vendido em supermercados e serve para culinária, não para coleções. É um papel tratado com silicone, e algumas marcas vem, inclusive, untadas com alguma gordura vegetal, para que as receitas não grudem nas formas ao irem pro forno. (Apenas imagine isso sendo usado pra armazenar selos, pra terem noção do tamanho do absurdo que é...).

Também já vi confundirem com “papel vegetal”, ou chamarem o glassine por esse nome. Realmente são fisicamente parecidos, mas são papéis totalmente diferentes e com propriedades diferentes. O Papel Vegetal (também chamado de “papel transparente”) vem em resmas, é vendido em papelarias, e serve principalmente para desenho. Quando manufaturado com baixíssima gramatura, é chamado “papel de seda” e é encontrável em cadernos escolares para desenho ou em rolos, para fazer pipas para crianças. Em boas e caras marcas, como Canson, é feito um refino mecânico da fibra de celulose, criando uma fibra gelatinosa, onde quase todo o ar é excluído das fibras, tornando-o translúcido, mesmo em gramaturas tão altas quanto 280g/m². Mas no geral, é um papel cuja polpa foi tratada com ácido sulfúrico (!!!) para se tornar translúcido e em seguida é calandrado (passado entre vários rolos de aço aquecidos e polidos). Possui altíssima umidade interna (às vezes mais de 50%), e ainda possui baixa opacidade, permitindo que a luz passe.

Ou seja, o papel vegetal é ácido (a maioria das marcas), possui alta umidade, e permite alta iluminação. Imagine um tal material sendo usado pra guardar selos...


Agora, sobre o GLASSINE:

O GLASSINE, também chamado (agora sim, na forma correta) de “papel cristal”, ou “papel pergaminho”, é justamente o OPOSTO do papel vegetal. É um papel finamente texturizado, semi-transparente, livre de ácidos, (pH neutro), tratado com glicerina (ou parafina), tornando-o REPELENTE À UMIDADE, muito mais resistente contra o ar, (poluição, poeiras, etc), óleos e umidade do que qualquer outro tipo de papel.

Logo, serve para arquivar materiais que são frágeis à luz, umidade e oleosidade, como uma excelente barreira de proteção. Isso pode incluir não só selos, como também fotos, negativos fotográficos, postais e outros objetos planos. Na filatelia, protege os selos da luz (evitando desbotamento de cores), protege da umidade (evitando assim o surgimento de “ferrugem” nos selos), e protege as peças da oleosidade das mãos e acidez de outros papéis. Protege também contra traças, já que estas não gostam de papel parafinado.

No caso dos envelopes, uso-os pra armazenar duplicatas de selos de minha coleção, como tantos outros filatelistas fazem, em todo o mundo. Para maior durabilidade, armazene os envelopes em uma caixa de plástico, acrílico ou de papel acid-free (livre de ácido), e coloque alguns saquinhos de sílica-gel dentro da caixa. (Se sua casa é infestada de BICHOS, ponha uma bola de naftalina dentro).

 

 

São encontrados principalmente nas casas filatélicas de renome e com comerciantes de boas marcas, em diferentes tamanhos e gramaturas, (quanto maior a gramatura, maior o nível de proteção), e é material importado. Não há fabricação de Glassine no Brasil.

Os envelopes glassine são excelentes “cartões de visita” e uma maneira muito profissional de se enviar selos a alguém, podendo ter sua logomarca impressa ou carimbada nos mesmos, o que é positivo a longo prazo, já que os colecionadores NUNCA os jogam fora. Há de se lembrar também que, qualquer leve umidade no fluxo do correio, p. ex. na bolsa do carteiro em um dia chuvoso, uma van de correio úmida, ou como já ocorreu comigo: uma caixa de correio ao ar livre em um dia chuvoso, que foi esquecido de conferir se o correio já passou, fará com que selos MINT dentro das cartas colem uns nos outros. Hoje tenho selos caros, comprados mint, mas que estão novos sem goma na coleção, pois tive que lavar pra desgrudá-los. Se estivessem em envelopes glassine, estariam protegidos.

O glassine não é resistente a umidade atmosférica e a iluminação, especialmente raios ultravioleta. Por isso, com o tempo, vai se tornando mais frágil, às vezes quebradiço, e fortemente amarelado, até tons marrons. Quanto mais umidade e iluminação, mais rápido será processo de envelhecimento. Quando isso ocorrer, chegou a hora de substituir. Se o glassine em questão são as páginas intercaladoras dos classificadores, então é um indicativo de que chegou a hora de trocar o classificador.

Algumas criaturas tem vendido, em sites de compras, envelopes glassine antigos já bastante amarelados e até mesmo em tons marrons, como sendo “material vintage”. E o pior, vi filatelistas comprando isso alegremente (e isso me motivou a escrever esse artigo). Esse material não serve para absolutamente NADA no que diz respeito a filatelia ou arquivística de materiais, são glassines que já chegaram ao final de sua vida útil, não protegendo mais o material contido neles contra a luz, oleosidades e umidade, e portanto, o seu único destino possível é ser deitado ao lixo. Você pode confirmar essa informação com um museólogo.

Em resumo: Tem que estar branquinho. Escureceu, amarelou, ficou marrom? LIXO.

Pra finalizar: CUIDADO com o “glassine” chinês (as vezes vendido como “nacional”): De baixíssima qualidade, e baixíssima gramatura, tão leves e finos que você quase poderia cuspir através deles, provavelmente feito de estoque de papel VEGETAL de baixa qualidade, altamente ácido, muitas vezes sendo um mero PAPEL ENCERADO (portanto, gorduroso). Na maioria das vezes, são feitos para ALIMENTOS, e cortados em formato de ENVELOPES. Um verdadeiro PERIGO para os selos, que eu já tive o desprazer de encontrar em casas filatélicas no Brasil. Ponha seus selos neles, e os verá rapidamente criando “ferrugem”. Você saberá diferenciar o GLASSINE do lixo chinês principalmente pelo preço: O verdadeiro glassine custa, em média, US$ 60 (dólares americanos) pra cada 1.000 unidades, e após ter glassine verdadeiro em mãos, não será mais enganado, pois a diferença física é grande.

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