«Potschta», emitido pelos correios de Dresden, Saxônia Oriental.
Sonho de consumo de muitos filatelistas.
Cotação € 600 mint, € 240 sem goma ou charneira, € 800 sobre envelope
O suposto primeiro selo postal do pós-guerra na Saxônia Oriental, (Zona Soviética de Ocupação na Alemanha), que por muito tempo foi considerado seguro, foi o chamado “Potschta”. Este selo postal foi produzido localmente na cidade de Dresden, por iniciativa dos correios de Dresden (Oberpostdirektion ou OPD Dresden) com uma tiragem de 1.030.000 exemplares.
Um funcionário dos correios, gerente da agência A16 de Dresden, chamado Ernst Friedrich Schneider, ficou encarregado do design e da impressão. Foi planejado para ser emitido em 21 de Junho de 1945, para coincidir com a invalidação dos selos provisórios com a efígie de Hitler pré-obliterados com cortiça e tinta preta.
No entanto, as primeiras impressões, com tinta à água, aquarelável (vermelho, fluorescente vermelho) não agradaram, e a cor não bastaria para toda a emissão. Então, uma segunda impressão foi feita, com tinta à óleo (vermelho escuro, fluorescente carmim escuro).
Uma outra versão diz exatamente o contrário: que primeiro foi feita a impressão em tinta a óleo, mas como a mesma estava ficando escassa, gradualmente foi sendo adicionado tinta à água aquarelável. Os selos que no final eram impressos somente em tinta à água, foram imediatamente descartados, e as cópias existentes devem sua existência devido ao furto. Já em 1948, o boletim «Collector’s Express» relatou que os selos «Potschtas» em tinta à água estavam circulando em grandes quantidades. E isso gerou uma investigação policial da qual falarei mais adiante…
Todo modo, a data de emissão foi postergada para 23 de Junho de 1945, sendo postos para ser emitidos os selos impressos com tinta à óleo.
Preços de catálogo imponentes - especialmente para cópias em envelopes - documentam a raridade da “Potschta” da Saxônia Oriental. É uma peça que falta em MUITAS coleções, (na minha, inclusive…) e é objeto de desejo dos filatelistas que colecionam as emissões das Zonas de Ocupação Aliadas.
E aqui começa a fantástica “saga” desse selo, uma história conhecida pelos filatelistas, e relatadas exaustivamente nos catálogos e na literatura filatélica, há quase 70 anos:
Apenas oito horas após ser colocado a venda, o Comando Soviético abruptamente mandou retirá-lo de circulação, por conta do texto “Correios” (ПОЧТА) (pronuncia-se “Potschta”) em russo, na parte inferior do selo.
Nem o prefeito nem o comandante russo se opuseram ao projeto desse selo. No dia da venda do balcão, as amostras foram novamente enviadas à cidade e à administração militar, mas depois de algumas horas os correios receberam uma ordem surpreendente para suspender imediatamente a venda do “Potschta” e destruir o bloco de impressão e os selos. Até então, porém, 14.500 exemplares já haviam passado pelo balcão dos correios e cerca de 500 foram enviados por correspondência.
A história não parece impossível. Sempre houve paradas de vendas semelhantes. E o gerente Schneider evidentemente testemunhou esses eventos.
Mas… Apenas alguns anos atrás, o filatelista Wolfgang Strobel, do consórcio “Arge Deutsche Notmaßnahmen ab 1945 e.V.” conseguiu provar que um caso sem paralelo de fraude tem prejudicado colecionadores por décadas, e a história postal teve que ser reescrita depois de quase 70 anos.
Ainda no final da década de 1940, alguns examinadores expressaram suas primeiras dúvidas sobre a existência de "Potschtas" devidamente – e perfeitamente - carimbados. Mas a história dos selos retirados já estava ancorada no cânone, publicada em boletins e em catálogos.
O Dr. Wilhelm Schröder, especialista nos clássicos da SBZ (Sowjetische Besatzung Zone, Zona Soviética de Ocupação), autor da obra «Das Werden einer demokratischen Postverwaltung», (“Transformação de uma Administração Postal Democrática”), elevou o episódio ocorrido em Dresden ao patamar da História ainda em 1945.
Quase 50 anos depois, tanto colecionadores quanto especialistas criticaram alguns dos carimbos postais. Em 1993, descobertas de arrepiar os cabelos, envolvendo aquilo que há de mais alemão possível na face da Terra, ou seja, CHUCRUTES E PRESUNTOS, sobre os carimbos «DRESDEN A 16 bb» vieram à tona. Ironicamente, o chefe da administração do distrito postal de Dresden em 1945, Albert Stürmer, desempenhou um papel proeminente e duvidoso.
O funcionário sênior do correio, um judeu chamado Albert Stürmer, teria guardado 50 folhas do «Potschta». Além disso, outras folhas estavam guardadas em seu escritório, de onde foram retirados os modelos enviados ao prefeito local. E, graças a um acidente, uma porção mal embalada de chucrute foi derramada na mesa de Stürmer, sob as folhas de selos, de modo que os selos grudaram uns nos outros. Ele os levou pra casa, separou as folhas intactas e lavou os selos grudados com leite azedo. Com a ajuda de um amigo, ele teria preparado uma reutilização em grande escala dos selos “resgatados” durante o inverno. Assim, envelopes foram fraudulentamente criados, inserido endereços à máquina ou manuscritos, franqueados com o selo “Potschta” previamente lavados e regomados, e no início do verão de 1946, um suculento presunto foi oferecido a um funcionário dos correios da agência A16, para persuadí-lo a fazer, durante a calada da noite, um cancelamento postal legítimo nos envelopes assim fabricados. Assim, os «Potschtas» com o carimbo que os experts atestam como “verdadeiro”, «DRESDEN A 16 bb» são todos forjados, com datas retroativas.
Exemplo de envelope “circulado” com o selo «Potschta».
Todos os exemplares conhecidos são carimbados em Dresden, na agência A16, sempre o mesmíssimo carimbo.
O que era pra ser algo lógico, pois o selo somente circulou por algumas horas, na mesma agência A16,
se tornou na verdade a principal razão para suspeitas.
Existem carimbos de outras agências, como A44, etc, mas estes os “experts” os taxam como falsos.
O fato de que a história do “Potschta” (de venda por poucas horas) poderia ter outras falhas, apenas gradualmente se tornou aparente. O carimbo «DRESDEN A 16 ee» parecia confirmar que só tinha sido utilizado em uma agência, a A16. Isso deu origem à suspeita de falsa carimbagem. Julgamentos moderados, no entanto, falavam de “cancelamentos por cortesia” e “pós-cancelamentos” ou mesmo “por engano” quando um “Potschta” trazia este carimbo.
O número de cancelamentos considerados corretos e genuínos diminuiu continuamente. Mas obviamente ninguém queria olhar de perto. A lenda da parada das vendas em 23 de junho de 1945 talvez tenha ficado gravada profundamente na memória coletiva. Mas quando o especialista em selos da Saxônia Oriental, Wolfgang Strobel, deu uma olhada mais de perto, ele se deparou com uma descoberta angustiante.
Em sua busca, Wolfgang Strobel se aprofundou, pesquisou arquivos e não hesitou em vasculhar montanhas de arquivos. Ao fazer isso, ele descobriu uma fraude em grande escala:
O “Potschta” evidentemente nunca tinha ido ao balcão dos correios para venda.
Os selos carimbados foram todos posteriormente cancelados com carimbos originais com datas retroativas, ou seja, forjadas. Carimbagem fraudulenta.
Toda a história da parada das vendas, apenas algumas horas após o início, era fictícia.
Os criadores da falsa história foram os funcionários responsáveis pelos postos dos correios, sob cuja égide a emissão fracassou.
Na verdade, os selos foram retirados antes da venda fictícia.
É por isso que as seguintes emissões impressas e postas em circulação (sem a inscrição ПОЧТА) já estavam completas e à venda apenas seis dias após 23 de junho de 1945. Isso foi provado por uma carta da Oberpostdirektion (OPD) de Dresden. Somente em 3 de julho de 1945, o Presidente do OPD, Dr. Johannes Kneschke, entrega 25 folhas pra destruição. Aparentemente, a ideia amadureceu lentamente, mas ainda mais profundamente. Duas semanas depois, em 16 de julho, o Dr. Kneschke entrega novamente 100 folhas, no dia seguinte mais 1000.
Em 5 de julho, o vice de Kneschke também entrega mais 50 folhas. Seu nome? Albert Stürmer.
Os dois altos funcionários possuíam 117.500 exemplares. Os “Potschtas” entregues teriam sido destruídos um dia após a última entrega.
Embora as matérias-primas devam ser recicladas de acordo com a regulamentação, os responsáveis documentaram a alegada “incineração” dos estoques. Então, eles lançaram as bases para a lenda contada no início, a fim de encobrir seu golpe. A pedido do «Collector's Express» em 1948, o OPD Dresden confirmou que os selos impressos em tinta a óleo definitivamente ultrapassaram o balcão, ou seja, foram postos a venda por algumas horas, e não quis comentar as “controvérsias privadas”. O número de 14.500 “Potschtas” vendidos, no entanto, se tornou uma "exatidão inviolável", uma CERTEZA, por 70 anos...
Folha completa do selo “Potschta”, com certificado de autenticidade, sendo ofertado no site Delcampe por € 3.000.
Uma pechincha, se compararmos com os valores com os quais os exemplares isolados são vendidos…
Surpreendentemente, os acontecimentos em torno do “Potschta” já haviam sido afetados por investigações policiais no início da década de 1950, feitas pela KRIPO – Kriminalpolizei, a Polícia Criminal, quando foi investigado o furto de selos “Potschta” impressos em tintas à água (aquarelas) e que estavam em grande quantidade no mercado. O principal suspeito? Adivinha só: O sr. Albert Stürmer. Nessas atas da polícia criminal foi expressa a autuação de que nenhum “Potschta” havia sido vendido no balcão. Os balconistas dos correios, interrogados, se envolveram em declarações falsas e, mesmo então, veio à luz que o presidente do OPD, Dr. Johannes Kneschke, generosamente deu “Potschtas” em folhas - também para o gerente da agência, sr. Schneider, que diligentemente espalhou a história da venda interrompida por meio de seus relatórios. Até um selo foi encontrado com a data "23.6.45" definida. No «Collector's Express» nº 3 de 1951, entretanto, foi relatado que as alegadas 14.500 cópias "vendidas" somente aconteceram através do acesso de "ex-funcionários dos correios". Curiosamente, esses achados não influenciaram a interpretação comum - até que todas as indicações foram reunidas recentemente pelo filatelista Wolfgang Strobel.
A descoberta da fraude gerou discussões acaloradas. Muitos colecionadores, com razão, com seus selos caríssimos e com certificados de autenticidade, se sentiram enganados e relutaram em olhar a triste verdade. O assunto é escandaloso à primeira vista. O fato de os documentos usados por Strobel estarem todos disponíveis ao público, mas até então ninguém se preocupou em descobrir o verdadeiro pano de fundo do “Potschta” é curioso e provavelmente simplesmente humano.
Mas ninguém pode tirar dos colecionadores e especialistas da Saxônia Oriental que eles têm um testemunho realmente emocionante sobre a filatelia alemã com o “Potschta”, e também a evidência de uma história de crime aventureira. Só porque os selos de fato não foram emitidos, não significa que percam o seu valor.
No entanto, os selos carimbados, agora têm de ser vistos como realmente são – TODOS COM CARIMBOS FRAUDULENTOS - e não como os falsificadores queriam que fossem (verdadeiramente circulados por algumas horas). Os novos, como NÃO EMITIDOS, e não como “emitidos por somente poucas horas em um único dia”, pois não chegaram a ser postos a venda. São documentos da história contemporânea e, de qualquer forma, contam uma história emocionante dos primeiros meses da filatelia do pós-guerra.
Recentemente, em 2015, o catálogo MICHEL alterou a classificação do “Potschta”. Antes era catalogado como selo MiNr. 41, e agora é MiNr. B I (não emitido).
Deixo no ar duas dúvidas pessoais:
1) Se o Alto Comando Soviético mandou retirar o “Potschta” por conta da inscrição em russo (o que de fato não poderia acontecer, já que se está em território alemão, a inscrição nos selos deve estar somente em alemão, pois a derrota militar da Wehrmacht – Exército Alemão - não pressupõe o fim de um povo e de um Estado), seja por iniciativa própria ou por reclamação dos outros aliados… Porque as emissões da Zona de Ocupação Francesa, com a inscrição «ZONE FRANÇAISE», inclusive impressas bem depois do “Potschta”, em Dezembro de 1945, também não foram retiradas de circulação ou não foram objeto da mesma reclamação??
2) Após ficar HORAS pesquisando imagens dos envelopes supostamente circulados com o selo “Potschta”, notei o seguinte: Todos são muito parecidos. Mesmo formato de envelope, mudando apenas 2 ou 3 cores do papel do envelope. Alguns escritos à máquina, sempre no mesmo formato e cor das letras, outros em manuscrito, com caligrafias idênticas. Todos com o selo “Potschta” isolado, nunca em pares, tiras, blocos, ou misturados a emissões anteriores (efígie de Hitler sobrestampada à cortiça, com tinta preta). Todo mundo enviando cartas de primeiro porte básico, de 20 gramas? Nenhum envelopinho com mais volume (e claro, sendo necessário mais selos pra pagar o porte)? Estranho… E também NUNCA NENHUM ENVELOPE REGISTRADO. Cartas registradas não podem ser confeccionadas “de favor”, estas precisam obrigatoriamente passar pelo sistema do correio. Ninguém nunca desconfiou de nada por 70 anos???
Exemplos de 3 envelopes com o selo “Potschta”, todos com a MESMA caligrafia. Nos dois primeiros envelopes, a coisa aos meus olhos é tão ridícula que até mesmo o ângulo de ataque do carimbo aplicado é o mesmo, como se o carteiro estivesse com uma pilha de cartas na mão e carimbando-os em sequência. Isso é apenas uma pequena amostra, é possível encontrar na internet DEZENAS de envelopes idênticos, com a mesma caligrafia, e todos “expertizados” BPP. Isso pode ser explicado com um remetente – provavelmente comercial - postando dezenas, centenas de cartas de uma vez. Mas acontece que quase todo o material que existe hoje tem a MESMA caligrafia. Foram supostamente 14.500 selos vendidos. Ninguém mais mandou cartas nessa agência, nesse dia? O último envelope, inclusive, “endereçado” a Friedrich Schneider, sim, ele mesmo! O próprio gerente da agência A16, onde a peça foi carimbada, e que também participou da criação dos selos e da posterior fraude, junto ao sr. Stürmer. É MUITA COINCIDÊNCIA!!! E mais, ele morava junto ao sr. Karl Lindermann, o destinatário do primeiro envelope? Bizarro… Lembre-se: € 800 euros a cotação de cada um no catálogo MICHEL…
Cabe ressaltar: O selo “Potschta” continua sendo um selo bastante digno de estar em uma coleção. Continua bastante cobiçado. Eu inclusive quero um e um dia terei! Apenas sua história verdadeira é que foi finalmente revelada, e sua classificação em MICHEL alterada, sendo ele um não-emitido, e seus exemplares carimbados, são feitos de favor, no qual o responsável, um balconista qualquer do correio A16 de Dresden, em conluio com Stürmer, ganhou um reles presunto em troca do serviço fraudulento de carimbagem com datas retroativas, forjado para fins filatélicos. (A guerra havia terminado apenas 2 meses antes, em Maio de 1945, e muitas cidades estavam destruídas, Dresden especialmente foi quase varrida do mapa, tamanha a violência dos bombardeios aliados, no qual mais de 100.000 pessoas morreram somente nessa cidade em apenas 3 dias de ataque – todos civis, um crime de guerra dos aliados –, e uma peça de presunto naqueles tempos terríveis era um bom pagamento pra algum servicinho “extra”).
Se a cotação dos exemplares novos vai subir ou descer, só o tempo dirá…
Já a cotação dos exemplares (fraudulentamente) carimbados, esse digo com certeza que vai cair significativamente.
Já é possível encontrar em leilões na Alemanha os envelopes, que antes disputados a tapa por € 800 de lance inicial, estão saindo agora por € 200, e com raros (talvez desavisados) compradores.
Pra finalizar, menciono uma citação espetacular, do Boletim #72 do ARGE DEUNOT (ARGE Deutsche Notmaßnahmen ab 1945 e.V.), página 95, de onde retirei grande parte das informações contidas nesse post, e onde estão os documentos e fontes primárias dessa pesquisa do sr. Wolfgang Strobel. (O artigo todo tem 130 páginas, ricamente ilustrado com documentos da época, e aqui no blog fiz um resumo). Segue o trecho:
(…) em meados de Junho de 1950, o Ministro dos Correios e Telecomunicações informa o Chefe da Comissão Central de Controle do Estado em Berlim que o ex-presidente do OPD Dresden (Oberpostdirektion Dresden, os Correios de Dresden), o sr. Albert Stürmer, havia “realizado um negócio de um milhão de Marcos para si mesmo com o selo Potschta de 1945”.
Em 23 de Julho de 1950, ocorre uma busca domiciliar da Polícia Criminal na residência do agora demitido ex-presidente sr. Albert Stürmer, por causa do selo Potschta.
No dia seguinte, o sr. Albert Stürmer comete suicídio. (…)
É, meus caros… Onde a praga vermelha comunista põe o dedo, principalmente se está vendendo a preços altos, é de se esperar que haja alguma malandragem, alguma mutreta, algum rôlo, algum cambalacho, ou pra usar uma palavra muito em voga no Brasil atual, algum “malfeito”… Essa regra é INFALÍVEL. Para um comunista, o comunismo é para os outros, já pra si próprio o que vale é a forma mais selvagem possível de capitalismo, inclusive mediante fraude, além de sede de sangue e poder total. O que um comunista mais gosta, é de dinheiro. Dos outros, é claro! O sr. Albert Stürmer, do OPD Dresden (cujo assistente foi pago por ele com presunto pra carimbar os envelopes forjados) encheu profundamente os bolsos nos anos seguintes, com a venda dessas peças. E quando foi descoberto o seu golpe, após uma busca policial e na iminência de ser preso, se vitimizou e tirou a própria vida, pois certamente, na melhor das hipóteses, iria passar longos anos no xadrez no obscuro interior da ainda em reconstrução cidade de Dresden, na recém criada Alemanha Oriental.
Há de se ter OLHO VIVO no colecionismo, especialmente com peças caras e cobiçadas, e no caso de filatelia alemã, igualmente, para envelopes Zeppelin, muitos “circulados” de um único remetente. A quantidade que é possível encontrar somente numa busca na internet, pesquisando um único vôo, chega a levantar dúvidas se tudo aquilo caberia na área de carga dos famosos dirigíveis. Isso porque sequer mencionei as peças completamente falsas e fabricadas filatelicamente, algumas tão ridículas que o endereço do destinatário é escrito com caneta esferográfica, cuja só foi inventada nos anos 1950, sendo que o último vôo dos dirigíveis foi em 1937, com o fatídico acidente do “LZ-129 Hindenburg”.
E também com o selo «Vineta-Provisorium», um selo tipo “Germania” de 1900 “Reichspost”, cortado ao meio e sobrecarregado “3 PF” em violeta, o qual foi filatelicamente criado, inclusive com datas retroativas de carimbos, e que igualmente existem grandes quantidades de falsos completos no mercado.
E igualmente, com os selos da Alemanha MiNr. 909/910, «Parteiorganizationen Sturmabteilung (SA) und Schutztaffel (SS)» emitidos em 21 de Abril de 1945, com o exército russo já dentro de Berlin. É a última emissão do Reich Alemão. Os selos foram sem dúvida, emitidos, pois há registro documental da emissão. Mas cartas circuladas com o mesmo, como existem algumas por aí, com “certificados” BPP, acho bastante duvidoso. Os homens disponíveis estavam no front, seja no que restou do exército alemão, seja na milícia armada Volkssturm (que aceitava homens fora da idade militar, mulheres e até crianças). Haviam carteiros entregando correspondência debaixo de fogo de artilharia russa, com obuses, foguetes, bombas e tiros de metralhadoras .50 voando pra todos os lados em cada esquina de Berlin, nos últimos dias da guerra? Nem precisa ler bons livros acadêmicos pra entender como estava a cidade: Quem assistiu o filme «Der Untergang» (A Queda) vai ter uma idéia da situação de Berlin nesses dias. Quem eram esses corajosos carteiros? Na minha opinião, cartas circuladas com esses selos são uma fraude filatélica, igualmente criadas após a rendição alemã, com datas retroativas nos carimbos.
Falarei desses três em outros posts em breve. Os falsificadores da época não contavam que um dia, uma grande parte desse material estaria escaneado ou fotografado por milhares de vendedores e colecionadores pelo mundo, e com imagens acessíveis facilmente a qualquer um com internet. No mundo do colecionismo, se algo, por menor que seja, esteja suspeito ou levante dúvidas, a chance de ser uma peça falsa ou de fabricação fraudulenta é altíssima.
Quanto ao “Potschta”… O fato é que, passados 30 anos da queda do Muro de Berlin, muitos MISTÉRIOS da antiga Zona Soviética de Ocupação, posteriormente Alemanha Oriental, ainda estão por ser revelados, inclusive na Filatelia.